vendredi 9 novembre 2012

Joelhos esfolados




Só não esfolou o joelho quem não brincou. Quem não subiu a árvores, quem não caiu de bicicleta, quem não tropeçou nas correrias, quem nunca saltou muro pra fugir do cão do vizinho; não pode ter de maneira nenhuma esfolado o joelho quem não jogou à bola com os amigos do bairro, quem não bilou com os kambas ou pelos kambas, até mesmo por aquela pinta que queria impressionar (e que hoje já não fala contigo, armada em fina... mas a maka já é dela!)... 

O joelho esfolado é uma porta de passagem obrigatória, denominador comum da infância travessa, do prazer da descoberta. É cicatriz de guerra, é troféu, prova dada do heróico feito, do "sim eu posso" que impulsiona todos os desafios da infância e lhe dá asas!

Não há joelheiras que evitem, um dia ou outro, a queda na infância, a ferida no joelho, o raspão na canela. Em crianças, lidamos perfeitamente bem com isso, integramo-lo como parte do percurso com a maior naturalidade. Porque será que, quando adultos, encaramos um joelho esfolado como sendo uma autêntica hecatombe, porque é que nos tornamos tão medrosos, tão dramáticos, ao ponto de acharmos que não somos capazes de recuperar de uma simples cicatriz? Perdemos a inocência, e ao mesmo tempo a sã sabedoria intuitiva das leis universais que regem DE FACTO a vida. O que é uma evidência, um incentivo até, para qualquer criança torna-se numa barreira, um empecilho, um inibidor de iniciativa para os adultos: O MEDO DE VOLTAR A CAIR e ESFOLAR O JOELHO! 

Quando voltarmos a aprender com a criança em nós que o joelho esfolado faz parte do jogo, é um risco aceitável e inerente à própria vida... Voltaremos a sentir crescer aquelas asas que nos transportaram felizes ao longo do nosso percurso, e nos foram cortadas aquando da nossa imperceptível passagem ao triste e funeste estado de "adultos"...