mercredi 10 février 2010

Carapinha e identidade africana




«Negra de Carapinha Dura,
não estrague o teu cabelo, me jura.
Faça tranças corridinhas,
com missangas a cair,
carrapitos, pequinitos como
aqueles que vovó fazia, pra você.

Você é Africana, tem beleza Natural.
Vai mostrar para todo o Mundo,
que essa tua carapinha é o acabamento
de uma obra sem igual.
Vovó deixou, você vai guardar,
você não vai estragar aquilo
que vovó deixou pra você.»

Teta Lando

Pois é, amigo Teta... o espinhoso problema do tratamento da "carapinha dura"! Mais fácil falar quando não se tem que tratar dele pessoalmente, sobre a sua cabeça! Sendo homem, uma ida ao barbeiro ou 15 minutos passados em casa com a máquina e tá o assunto resolvido. Quando se tem tal distância com o problema, pode-se permitir elevar o assunto, tratá-lo como um tema idealizado, transformar a carapinha num marco da Africanidade, e equiparar o facto de a alisar ("estragar o que Vovó deixou") a uma forma de renúncia ou pelo menos de tentativa de alienação em relação à sua cultura, às suas origens.

Desde pequeno, posso considerar que vejo dos bastidores a maneira como Mãe, tias, primas, irmã tratam dos respectivos cabelos. Não querendo tomar o partido de uns contra outros, tenho apenas a dizer: quem trata dele é que sabe! A um momento dado, trata-se de uma questão prática, terra-a-terra, e também de gosto de cada um. Pessoalmente, desde que esteja tratado como deve ser, gosto de ver mulheres africanas com o cabelo ao natural, desfrizado, trançado, em dread locks... Isso não "define" a pessoa nem o seu real vínculo com África e as suas raízes. É apenas um dos inúmeros apetrechos visuais que podem participar na afirmação, na sedução, na construção de uma imagem de si, para si e para os outros. Com ou sem cabelo, irmãs, eu vos amo como vocês são. Como vocês quiserem e decidirem ser. Desde que seja sem tretas!